terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Encontro Ideal n°01


(Escrito em Julho de 2007)


Uma padaria, às 8h00.

Ele está resfriado.
Eu estou com pressa.

Ele percebe que estou triste - sim, só posso estar triste - e oferece um pouco do seu café. Olho para xícara infestada de bactérias do desconhecido com certo desdém, porque, além de não querer adoecer, meu ego matinal é mais forte que qualquer amor ainda não sentido.
Mas, mesmo assim eu bebo.

Ouço a voz dele pela primeira vez:
- Minha mãe sempre me levava café na cama quando sabia que eu estava triste.

Disfarço um sorriso frouxo e uma lágrima frouxa.

Sento ao lado dele e tento dizer o quanto não estou triste. Tento dizer que estou apressada, já que eu e minha equipe havíamos combinado de nos encontrar no escritório, em pleno sábado, para poder finalizar o projeto no dia marcado. Penso em contar-lhe mais sobre minha profissão, sobre meus horários, meus amigos. Penso em tudo ao mesmo tempo.

Então eu digo:
- Hmm.

Olho o sujeito de soslaio. Não tinha visto seu rosto até o momento e estava, pois, tomando o café de um par de calças. Só então percebo que seu nariz estava vermelho pelo resfriado.

- E o melhor é que sempre funcionava.

Demorei um pouco pra entender que ele se referia ao café na cama com carinho de mãe. Quando entendi, sorri novamente, mas dessa vez sem disfarces. E sem lágrimas também.

Ele percebeu; sorriu de volta. Digamos que deu risada. Virou o rosto para o meu lado e, por baixo dos cachos que lhe caíam testa à baixo, olhou para mim. Não olhou para os meus olhos, olhou para mim inteira, para minha tristeza, para minha alma; creio que naquele momento ele sentiu exatamente o mesmo que eu sentia.

Fiquei feliz por ser compreendida por alguém, mas a indefinição do pronome "alguém" fez a situação um pouco constrangedora.Endireitei a coluna e pigarreei.

- Meus pais - recomeçou ele - diziam que uma bebida quente renova a alma de qualquer um. Você quer um café?
E novamente me olhou.
- Sim...
Fiz movimentos para chamar o atendente, mas ele foi mais rápido.

- Estou triste.
- Eu sei.

Passou-se um tempo. Dois tempos, três tempos, não sei. Quanto tempo demora para se colocar um pouco de café em um pouco de xícara?

- Hoje é sábado - arrisquei, na tentativa banal de reestabelecer um diálogo.
- Triste, não?
- Para você também é triste?
- Claro.
Dessa vez ele sorriu e chorou. Eu só amei.

Passou-se outro tempo. Quatro tempos, cinco tempos. Quanto tempo demora para se viver uma vida?

Um comentário:

  1. Em 2010 ainda te amo, ok?

    Mas você não volta nem telefona. Isso aqui às moscas, vivendo de quem você era em 2007. Sabe, isso cria a melancolia na gente.

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