
(Escrito em Julho de 2007)
Uma padaria, às 8h00.
Ele está resfriado.
Eu estou com pressa.
Ele percebe que estou triste - sim, só posso estar triste - e oferece um pouco do seu café. Olho para xícara infestada de bactérias do desconhecido com certo desdém, porque, além de não querer adoecer, meu ego matinal é mais forte que qualquer amor ainda não sentido.
Mas, mesmo assim eu bebo.
Ouço a voz dele pela primeira vez:
- Minha mãe sempre me levava café na cama quando sabia que eu estava triste.
Disfarço um sorriso frouxo e uma lágrima frouxa.
Sento ao lado dele e tento dizer o quanto não estou triste. Tento dizer que estou apressada, já que eu e minha equipe havíamos combinado de nos encontrar no escritório, em pleno sábado, para poder finalizar o projeto no dia marcado. Penso em contar-lhe mais sobre minha profissão, sobre meus horários, meus amigos. Penso em tudo ao mesmo tempo.
Então eu digo:
- Hmm.
Olho o sujeito de soslaio. Não tinha visto seu rosto até o momento e estava, pois, tomando o café de um par de calças. Só então percebo que seu nariz estava vermelho pelo resfriado.
- E o melhor é que sempre funcionava.
Demorei um pouco pra entender que ele se referia ao café na cama com carinho de mãe. Quando entendi, sorri novamente, mas dessa vez sem disfarces. E sem lágrimas também.
Ele percebeu; sorriu de volta. Digamos que deu risada. Virou o rosto para o meu lado e, por baixo dos cachos que lhe caíam testa à baixo, olhou para mim. Não olhou para os meus olhos, olhou para mim inteira, para minha tristeza, para minha alma; creio que naquele momento ele sentiu exatamente o mesmo que eu sentia.
Fiquei feliz por ser compreendida por alguém, mas a indefinição do pronome "alguém" fez a situação um pouco constrangedora.Endireitei a coluna e pigarreei.
- Meus pais - recomeçou ele - diziam que uma bebida quente renova a alma de qualquer um. Você quer um café?
E novamente me olhou.
- Sim...
Fiz movimentos para chamar o atendente, mas ele foi mais rápido.
- Estou triste.
- Eu sei.
Passou-se um tempo. Dois tempos, três tempos, não sei. Quanto tempo demora para se colocar um pouco de café em um pouco de xícara?
- Hoje é sábado - arrisquei, na tentativa banal de reestabelecer um diálogo.
- Triste, não?
- Para você também é triste?
- Claro.
Dessa vez ele sorriu e chorou. Eu só amei.
Passou-se outro tempo. Quatro tempos, cinco tempos. Quanto tempo demora para se viver uma vida?
Em 2010 ainda te amo, ok?
ResponderExcluirMas você não volta nem telefona. Isso aqui às moscas, vivendo de quem você era em 2007. Sabe, isso cria a melancolia na gente.