quarta-feira, 12 de agosto de 2009

oi, Murphy

Olá! Hoje a enchente alagou a sua casa?
Não, né, porque hoje nem choveu em São Paulo. Mas, olha que gozado, hoje a minha casa foi alagada sim senhô.
E o mais engraçado é que toda a água será paga ao final do mês.

Se liga...

Saí de manhã, como sempre, fui trabalhar e tal. Estava um pouco adiantada, por isso desci uma estação antes e fui andando calmamente. Acabei comprando uma revista sobre photoshop cheia de tutoriais, dei uma folheada, e fiquei morrendo de vontade de chegar logo em casa.

Justamente por causa dessa vontade, decidi não fazer meu horário de almoço pra sair mais cedo. Também precisava passar no banco, então ia ser perfeito; comia qualquer coisa pra enganar, fazia tudo correndinho e eu chegava cedo em casa, belíssima para me divertir com minha nova aquisição.

Mas, né, claro que não ia ser tão simples assim.

Fui ao banco, passei uns bons minutos numa fila, andei pra cacete até o ponto de ônibus, perdi um ônibus (com direito a escândalo e xingamentos em voz alta ao motorista), esperei mais 30 minutos até passar o próximo e segui, achando que já estava bom por ali e eu seria feliz para sempre.

Cheguei em casa com várias sacolas e blusas na mão (porque, puta que pariu, tempinho de merda, nunca mais terei conforto térmico, meu deus?) às 17h.

De longe vi um filete de água escorrendo pra rua.
Estranhei porque Marlene – chama Marlene a moça que ajuda aqui em casa – porque Marlene não lava a garagem às quartas. Mas sei lá, com esse cachorro maluco, o lugar devia estar todo escroto e ela resolveu dar uma lavadinha pra preservar a dignidade arquitetônica da casa.

Abri o portão e encontrei uma Marlene enlouquecida, com uma vassoura na mão, frenética, puxando água e falando “ai, Carol, você não sabe! Tava faltando água, a torneira ficou aberta. A água voltou sei lá que hora e começou a jorrar e ai, meu deus! A sorte foi que eu passei na rua e vi escorrendo pela porta da casa”

“Que?”
“A casa está inundada!”
“Ah.. que?”
“Ai, meu Deus, meu Deus!!!!!”

Pisei na sala e o barulho do meu pé no chão foi “splash”. Fui ao quarto, correndo, colocar a bolsa na cama e espirrou água pra todo lado. Era o caos, o fim dos tempos.
Tinha muita água.
Não era exagero, a casa estava mesmo inteira molhada de uma água límpida e cristalina. No desespero, Marlene acabou quebrando o único rodo da casa e putaquepariueagorasocorro.
Achei um rodinho pequeno e comecei a puxar também.

Tava de um jeito que não sabia por onde começar. Não importava, na realidade, porque tudo precisava urgentemente de um rodo. Ao meu desespero somou-se o desespero da cachorra que, não entendendo a gravidade do que estava ocorrendo, insistia para que eu abrisse o portão para ela dar uma voltinha na rua.
Enquanto Marlene repetia em voz alta “Ai, por Deus, por Deus!” eu repetia em voz baixa, com os olhos marejados “merda.... merda.”

Não contarei detalhes de como foi o serviço, mas acabou que a casa ficou forrada dos familiares de Marlene – que ela mora aqui perto e toda a família dela veio ajudar – e era gente que eu nunca vi na vida pegando as minhas coisas, puxando os móveis, passando pano.
Grazádeus que eles vieram; terminamos o trabalho em “apenas” 3 horas.

Meu teclado, que estava funcionando perfeitamente e que eu estava amando tocar novamente molhou. Enxarcou. Quando virava ele vertia água pelas saídas de som das laterais. Não tentei ligá-lo por medo de dar alguma faísca louca, mas certeza que já era.
Meu portfólio foi perda total. TODOS os trabalhos tão cagados, com machas rosadas da tinta de uma revista que derreteu.
Minha carteira de trabalho ficou frisada. Um loosho profissional.
Cadernos antigos de anotações do colégio, que estavam numa caixa, viraram algo parecido com vômito.
Provavelmente alguns livros do meu irmão também foram destruídos, mas ainda não tive tempo de avaliar com calma.
Sem contar o sapato e a calça que eu estava usando, ambos novos, que sofreram algum dano também. Mas aí tudo bem, vai, se comparar com o resto...

Agora sim eu me compadeço com as vítimas de enchentes.

SALDO
Negativo:
- 1 teclado musical yamaha com grande valor sentimental, além de cabos e da mala para carregá-lo;
- 1 portfólio de trabalhos de design;
- 1 revista de design;
- 3 cadernos antigos de anotações;
- 1 carteira de trabalho;
- 1 rodo;
- Vários livros de literatura, informática e temas variados.

Positivo:
- R$2,50 perdidos embaixo das camas e nos cantinhos da casa vieram junto com as águas;
- Mais tônus muscular (?).

2 comentários:

  1. Não envio (ainda) a orelha por e-mail; mas livros de literatura, em reposição aos perdidos, por correio (soooo old-fashioned).

    Porque tocou fundo, e fiquei solidarizado.

    E "viraram algo parecido com vômito" é definitivamente literatura.

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  2. E eu achando que só em filmes a casa transbordava, talvez pq um corpo morto tapasse o ralo ou o fantasma da ex-amante morta entupisse o encanamento.

    Já ouviu falar do tal milagre-dos-aparelhos-molhados? Se vc não seca com o secador os aparelhos molhados as vezes, veja bem, as vezes, voltam a funcionar misteriosamente após uns dias sob o sol de um país tropical. Por sorte estamos em um ^^

    Cadernos antigos precisam ser jogados fora um dia, quando a gente descobre q há 30 anos não usamos suas informações. No meu caso entraria na lista de saldo positivo.

    meus pêsames pelos livros de literatura

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